Guaracy Mingardi
Analista criminal e associado sênior ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Com as eleições municipais chegando, é possível discernir as novidades propostas pelos candidatos à prefeitura paulistana. E, como sempre acontece, nada de novo no front da segurança pública. Todos prometem mais do mesmo. Entrosamento da Guarda Metropolitana com a Polícia Militar, ou seja, manter as duas fazendo a mesma coisa. Maior investimento na “operação delegada”, o que significa pagar uma espécie de hora extra aos policiais militares para que trabalhem nos horários de folga etc. Quanto ao uso das câmeras em áreas públicas, ocorreram umas poucas menções, mas nunca chegando ao âmago da questão, que seria como usá-las para garantir a segurança do transeunte.
Sobre a questão do que fazer com as imagens coletadas, nem um pio. Aliás, na maior parte das vezes que o tema vem à baila, o que se ouve são promessas de uso de câmeras inteligentes, capazes de reconhecimento facial. Coisa cuja utilidade, pelo menos atualmente, é bem discutível. Além disso, é necessário comprar o equipamento, instalá-lo, treinar pessoal e criar um banco de dados de imagens de criminosos. Tudo isso é muito custoso e demorado, e tempo não é algo que sobre. O furto e o roubo de celulares, por exemplo, aumentam dia a dia, e boa parte desses crimes ocorre em regiões de muito movimento de pedestres, os quais são os locais mais vigiados pelo sistema público de câmeras.
A pergunta que não quer calar é a seguinte: de que forma são usadas imagens coletadas em locais próximos aos eventos? A resposta a isso é simples. Na maior parte das vezes elas não são usadas para nada.
E esse material poderia ajudar muito nas investigações, desde que tivéssemos um sistema bem mais desburocratizado para o uso delas. Atualmente tudo é muito lento. Nos raros casos em que são solicitadas imagens, elas só chegam às mãos dos investigadores após um longo trâmite burocrático, o que implica enorme perda de tempo.
Uma forma de agilizar isso, e que implicaria em real entrosamento entre Prefeitura e a Polícia Civil, seria um convênio entre as secretarias de segurança de ambos os entes para análise das imagens logo após o registro de uma ocorrência. A Civil, após registrar o fato, passaria uma cópia online do Boletim de Ocorrência para a Prefeitura, que teria um grupo de funcionários preparado para examinar as imagens, atendo-se não apenas ao ponto onde se deu o delito, mas também a seu entorno, procurando visualizar tanto o fato como o possível criminoso se afastando do local após o crime. Para essa busca, contariam com a descrição do criminoso e de sua vestimenta, que normalmente constam no BO.
Localizado um suspeito, poder-se-ia inclusive seguir seu trajeto, sabendo a direção seguida em sua fuga e, em alguns casos, nas de possíveis cúmplices. Com fotos dele, seria possível entrar em contato com a vítima e verificar se reconhece o ladrão no meio delas. Claro que para essa identificação ser legalmente viável, teriam de ser mostradas à vítima meia dúzia de fotos, entre as quais a do suspeito.
É um procedimento difícil? Na prática não, exigiria apenas uns 30 guardas metropolitanos, de preferência com experiência na região, mentalmente ágeis e com algum treinamento específico.
Eu mesmo, por sinal, tive uma experiência, de pequena escala, quando coordenava a segurança da Universidade de São Paulo. Havia um grupo de ladrões que furtava computadores e celulares em vários locais do Campus do Butantã. Depois de uma busca em alguns bancos de dados de imagens, conseguimos umas fotos bem “meia boca” do trio. Repassamos as imagens a todas as faculdades, institutos e demais unidades da Cidade Universitária. Em menos de uma semana eles foram identificados por alguns alunos, que ficaram de olho e chamaram a Guarda Universitária. Os três foram pegos em flagrante quando saíam daquela unidade com objetos furtados. Acabaram indiciados por crime continuado, o que diminuiu as chances de serem soltos após a Audiência de Custódia.
Como disse, é uma experiência limitada, mas mostra que esse tipo de acompanhamento é viável, e tornaria as ruas do centro paulistano menos perigosas para os transeuntes ou mesmo para os motoristas. Resta saber se alguém se interessa de fato para pôr em funcionamento um sistema do tipo. Particularmente, eu duvido. É mais fácil prometer coisas para um futuro distante. E políticas que impliquem verbas milionárias.