Qual a dimensão do trabalho da perícia envolvendo o atentado contra Donald Trump?
O FBI (Federal Bureau of Investigation), o equivalente à nossa Polícia Federal, assumiu as investigações. Seus núcleos de perícia passaram então a ser demandados para o caso e certamente terão muito trabalho pela frente
Cássio Thyone Almeida de Rosa
Graduado em Geologia pela UnB, com especialização em Geologia Econômica. Perito Criminal Aposentado (PCDF). Professor da Academia de Polícia Civil do Distrito Federal, da Academia Nacional de Polícia da Polícia Federal e do Centro de Formação de Praças da Polícia Militar do Distrito Federal. Membro do Conselho de Administração do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
O pré-candidato do Partido Republicano à Casa Branca, Donald Trump, sofreu um ataque a tiros enquanto realizava um comício em Butler, na Pensilvânia, no dia 13 de julho, um sábado. O evento estava sendo filmado e um grande aparato de segurança foi mobilizado. Isso, no entanto, foi insuficiente para evitar o que acabou se configurando em uma tentativa de homicídio contra o ex-presidente.
Os Estados Unidos apresentam um histórico marcante no que se refere a assassinatos de presidentes, candidatos à presidência e também líderes políticos. Quatro dos 45 presidentes americanos em exercício foram assassinados, a saber: Abraham Lincoln (1865, por John Wilkes Booth), James A. Garfield (1881, por Charles J. Guiteau), William McKinley (1901, por Leon Czolgosz) e John F. Kennedy (1963, por Lee Harvey Oswald).
Além de Donald Trump, dois presidentes ou ex-presidentes foram feridos em tentativas de assassinato: Ronald Reagan, enquanto estava no cargo (1981, por John Hinckley Jr.), e o ex-presidente Theodore Roosevelt (1912, por John Schrank). Em relação aos candidatos à presidência, incluem-se o senador Robert F. Kennedy, morto em 1968, e George Wallace, que, baleado em 1972, ficou paralisado da cintura para baixo.
No caso do ex-presidente Theodore Roosevelt, um projétil calibre .38 atingiu seu peito enquanto fazia campanha para recuperar a Casa Branca. A maior parte do impacto foi absorvida por objetos que estavam em seu bolso e o projétil ficou alojado na musculatura peitoral, permitindo que o então candidato ainda discursasse, mesmo ferido.
Outros políticos e líderes ilustres também tiveram suas vidas interrompidas por tiros, especialmente Martin Luther King Jr. em 1968, apenas alguns meses antes da morte de Robert Kennedy.
No caso do ex-presidente Trump, um dos projéteis disparados pelo atirador atingiu a sua orelha direita. Foi o chamado “tiro de raspão”. No caso, produziu uma ferida contusa, que provocou imediato sangramento, como se observou nas imagens que correram o mundo.
O FBI (Federal Bureau of Investigation), o equivalente à nossa Polícia Federal, assumiu as investigações. Seus núcleos de perícia passaram então a ser demandados para o caso e certamente terão muito trabalho pela frente.
Vamos relacionar a seguir o que já foi realizado e o que está em andamento em relação aos exames e ao alcance esperado:
Exames de Local: um completo exame da cena de crime foi efetivado. Assim que a área onde o comício se realizava foi evacuada, a polícia interditou a cena e as imediações. O atirador estava sobre um telhado a cerca de 135 metros do palco do comício. Logo após atirar, foi morto, atingido por um sniper que fazia o perímetro de segurança. Dados divulgados pela imprensa deram conta da descoberta de dois dispositivos explosivos no carro do atirador e possivelmente um terceiro em sua residência (examinada depois). Portanto, foram pelo menos dois exames desse tipo, na cena e na residência do atirador. O corpo do atirador foi removido e a arma que ele utilizava, recolhida. Drones foram empregados nesses exames de local.
Exames Médico-Legais: Foram realizadas as necrópsias no corpo do atirador, um jovem de 20 anos identificado como Thomas Matthew Crooks, residente na cidade de Bethel Park, na Pensilvânia, e no corpo de Corey Comperatore, de 50 anos, um bombeiro que assistia ao comício com esposa e duas filhas. Além das vítimas fatais, exames também seriam realizados nas duas vítimas feridas do atentado: David Dutch, 57, e James Copenhaver, 74. Neste caso foram produzidos laudos de lesões corporais. O próprio Trump deve ter sido examinado também.
Exames Balísticos: A arma apreendida com o atirador, um fuzil AR-15 semiautomático, segundo consta, comprado legalmente, além de outros vestígios, como estojos deflagrados e projéteis relacionados a todos os disparos efetuados (pelo atirador e seguranças), serão objeto de exames de exames.
Exames de imagens: Imagens de filmagens e de câmeras fotográficas captadas pela imprensa e por populares existem em abundância e certamente serão periciadas e empregadas em reconstruções 3D e outros recursos que permitirão um completo entendimento da dinâmica do evento.
Exames em dispositivos explosivos: os dispositivos explosivos encontrados serão periciados, descritos e caracterizados completamente.
Exames em dispositivos de comunicação e armazenamento de dados: celulares e computadores relacionados ao atirador serão examinados minuciosamente visando ao embasamento da investigação. Certamente, vão colaborar na busca da motivação, caracterização de planejamento das ações e premeditação, bem como na compreensão de sua personalidade e se ele agiu de forma solitária (existe a suspeita de que ele sofria constrangimento e intimidação por parte de terceiros).
Certamente o trabalho da perícia será extenso e também fundamental para que a investigação seja completa. Em novembro deste ano saberemos se esse atentado terá influência nas eleições americanas.