Pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revela que mais de 80% dos policiais preferem a democracia
Pesquisa ouviu mais de 5 mil policiais brasileiros sobre questões relacionadas à democracia e diversos outros temas da agenda de direitos civis, sociais e humanos às vésperas do dia 7 de setembro
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgou nesta semana a pesquisa “Policiais, Democracia e Direitos”, realizada junto a 5.058 profissionais da área (policiais civis, militares, penais, federais, rodoviário federais; bombeiros militares; guardas municipais). O levantamento revela que 80,9% dos profissionais da segurança pública concordam com a assertiva “quem for declarado vencedor das eleições pela Justiça Eleitoral deverá ser empossado em 1º de janeiro”. Em reforço a esse achado, para 84,5% a democracia é preferível a qualquer outro regime de governo. Os resultados são importantes para compreender o posicionamento de uma parcela da categoria às vésperas do feriado de 7 de setembro, quando serão comemorados os 200 anos da Independência. Esse percentual é quase dez pontos maior do que o extraído em pesquisa feita recentemente pelo Instituto Datafolha entre os brasileiros com mais de 16 anos.
Outro dado importante revelado pela escuta junto aos policiais mostra que 95,6% dos respondentes concordam com a assertiva “o povo escolher seus líderes em eleições livres e transparentes é essencial para a democracia”. Também pode ser considerado expressivo que 74,9% responderam acreditar que “os direitos humanos serem respeitados é essencial para a democracia”.
A pesquisa aponta, por exemplo, que 62,9% dos profissionais discordam que “quando há uma situação de crise, não importa que o governo passe por cima das leis, do Congresso ou das instituições com o objetivo de resolver os problemas”; apenas 8,8% concordam totalmente com um governo autoritário.
Outros 55,6% discordam que “em alguns casos seria justificável que os militares apoiassem ou tomassem o poder através de um golpe de Estado”, enquanto 14,7% concordam ou concordam totalmente com um golpe de Estado.
A despeito de os resultados globais indicarem adesão majoritária dos profissionais da segurança pública à democracia, entre 15% e 40% dos respondentes podem ser considerados radicalizados ou potencialmente radicalizáveis, a depender das características da conjuntura política e institucional. São os que não discordam ou relativizam um golpe de Estado. A maioria, entretanto, é robusta em afastar o uso das instituições para fins golpistas.
Entre o universo pesquisado, pouco mais de um terço (33,1%) vê o Ministério Público como aliado, enquanto 19,2% acreditam que o MP mais atrapalha do que ajuda o trabalho das polícias. Já em relação ao Poder Judiciário, há mais estranhamentos: 27,9% consideram que o Poder Judiciário mais atrapalha do que ajuda o trabalho das polícias; já 26,7% discordam ou discordam totalmente.
O levantamento também aborda outros temas relacionados à esfera da segurança pública, que estiveram na agenda governamental desde 2019, como os decretos para a flexibilização do porte e posse de armas no Brasil. Do total de profissionais de segurança pública ouvidos, 30,5% discordam totalmente ou discordam e 27,6% concordam/concordam totalmente com o sinal verde para que a população ande armada.
Metodologia
A técnica adotada pela pesquisa incluiu o emprego de perguntas com forte conotação valorativa para que os respondentes concordassem e/ou discordassem, não existindo, portanto, perguntas neutras ou “isentas”. A técnica pressupõe o posicionamento do respondente em uma escala que vai da concordância total à discordância total com um enunciado valorado. Isso permite captar e medir níveis de adesão que aproximam ou distanciam grupos sociais, bem como identificar pontos de convergência no debate de ideias e políticas públicas.
Os questionários continham 45 questões temáticas e 11 perguntas sobre o perfil profissional e social do respondente. Para o seu preenchimento, um link para o questionário foi enviado exclusivamente para a base cadastral de profissionais da área de que o Fórum Brasileiro de Segurança Pública dispõe, de modo a garantir que eles pudessem respondê-lo anonimamente. Para incentivar o preenchimento, lançou-se mão de ampla divulgação da pesquisa nas redes sociais, orientando que os profissionais da área solicitassem o link, bem como todas as chefias e comandos das polícias foram contatados para divulgar a pesquisa entre seus profissionais.
Por ter sido disparada para um cadastro grande de contatos e as respostas serem espontâneas, a pesquisa não tem caráter probabilístico e não é estatisticamente representativa do universo de policiais brasileiros. Isso não autoriza afirmações peremptórias e/ou extrapolação da amostra. Contudo, a pesquisa permite uma visão bastante poderosa de como os policiais e demais profissionais da segurança pública estão dispostos a se posicionar no debate nacional e em qual direção, servindo sobretudo para a captação de tendências entre os profissionais da área.