O que os policiais pensam sobre os acontecimentos de 8 de janeiro
Para 39,9% dos profissionais de segurança pública entrevistados, a invasão às sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro é condenável e não pode ser tolerada, mas ao mesmo tempo eles entendem que as pautas defendidas pelos invasores eram legítimas e não atentam contra a democracia
Betina Barros
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Isabela Sobral
Pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e Mestre em Administração Pública pela Faculdade Getúlio Vargas (FGV)
Arthur Trindade M. Costa
Professor de sociologia da Universidade de Brasília e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
A invasão das sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro é um marco para segurança pública. As responsabilidades ainda estão sendo apuradas e alguns dos invasores estão sendo processados, mas ainda resta identificar quem financiou as ações e quem organizou as invasões. Além disso, é importante saber a opinião dos demais profissionais de segurança pública sobre os acontecimentos de 8 de janeiro.
Nesse intuito, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública realizou na semana passada uma sondagem junto aos profissionais de segurança pública de todo o país para saber suas opiniões sobre os acontecimentos. A sondagem ouviu policiais militares, civis, federais, rodoviários federais, penais e guardas municipais entre os dias 24 e 27 de janeiro, às vésperas do fim da intervenção decretada pelo Governo Federal na segurança do Distrito Federal. Para isso, um formulário eletrônico foi desenvolvido e, após a realização de um pré-teste inicial, os questionários foram inicialmente enviados para uma base cadastral de cerca de 6.351 endereços eletrônicos exclusivos de profissionais da segurança pública construída desde 2008, representativos de todas as forças de segurança do país.
A sondagem mostrou que 75,7% dos profissionais ouvidos concordaram total ou parcialmente que houve falha de planejamento do policiamento da Praça dos Três Poderes no dia 8/01. Outros 51,2% dos entrevistados afirmaram que a conduta da PMDF foi correta e o problema foi exclusivamente do comando político.
Quanto às responsabilidades, 72,3% dos entrevistados apontaram que concordam que houve falha de comando, enquanto 57,5% avaliam que o que houve foi omissão do comando na contenção das invasões às sedes dos Três Poderes. Para 61,7% dos entrevistados, o Comando do Exército demorou para colaborar com a dissolução do acampamento em frente ao seu quartel-general.
Com relação à ação dos policiais, 55,8% dos entrevistados concordaram total ou parcialmente que houve omissão do policiamento. E para 58,9% dos entrevistados, a conduta dos policiais designados para as linhas de proteção inicial dos prédios foi inadequada e sem o devido rigor para controle de distúrbios civis. Ainda, 62,1% concordaram que os policiais flagrados confraternizando com os invasores devem ser punidos.
Um dado preocupante é a adesão dos policiais às pautas radicais. Para 39,9% dos agentes, a invasão às sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro é condenável e não pode ser tolerada, mas ao mesmo tempo entendem que as pautas defendidas pelos invasores eram legítimas e não atentam contra a democracia. Ou seja, concordaram com o conteúdo da manifestação – intervenção militar – e discordaram da forma. Para 62,9% dos profissionais entrevistados, as forças de segurança pública estão contaminadas pelo discurso político.
Por fim, os profissionais ouvidos pelo levantamento consideraram acertada a resposta dada pelo governo federal. Para 58,8% dos entrevistados, a intervenção federal na segurança pública do DF foi a solução menos traumática para a pacificação e solução da crise.
O levantamento é coerente com resultados de pesquisas, com diferentes metodologias, que o Fórum Brasileiro de Segurança Pública tem realizado desde 2020 e que indicam que, a despeito dos resultados globais dos estudos indicarem adesão majoritária dos profissionais da segurança pública à democracia, entre 15% e 40% dos respondentes podem ser considerados radicalizados ou potencialmente radicalizáveis, a depender das características da conjuntura política e institucional.