Perícia em evidência 01/02/2023

O Encontro entre Mamon e as Queres: A maior chacina já ocorrida no Distrito Federal.

Com o descobrimento do cativeiro, a perícia teve um papel fundamental. Impressões digitais encontradas na residência “colocaram” novos envolvidos no local do crime e também no radar da investigação

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Cássio Thyone Almeida de Rosa

Graduado em Geologia pela UnB, com especialização em Geologia Econômica. Perito Criminal Aposentado (PCDF). Professor da Academia de Polícia Civil do Distrito Federal, da Academia Nacional de Polícia da Polícia Federal e do Centro de Formação de Praças da Polícia Militar do Distrito Federal. Ex-Presidente e atual membro do Conselho de Administração do Fórum Brasileiro de Segurança Pública

O ano no Distrito Federal começou agitado em todos os sentidos. Infelizmente, além da agitação relacionada aos recentes atos terroristas, vivenciamos a letalidade e a incredulidade trazidas por uma chacina que vitimou 10 pessoas de um único núcleo familiar, incluindo três crianças, duas com 6 anos e uma de 7 anos. O que vimos no Distrito federal foi o encontro entre Manon (a personificação da ganância) e Queres (na mitologia grega espíritos da fatalidade e da morte violenta). A Polícia Civil do Distrito Federal já concluiu o relatório final das investigações, apontando como motivação a posse de um terreno avaliado em torno de R$ 2 milhões. Essa foi, segundo o relatório, a razão pela qual 10 pessoas perderam a vida. A ganância, cuja definição nos diz muito sobre esse caso:

Sentimento humano que se caracteriza pela vontade de possuir tudo que se admira para si próprio. É a vontade exagerada de possuir qualquer coisa. É um desejo excessivo direcionado principalmente à riqueza material, nos dias de hoje, pelo dinheiro.”

Vejamos quem eram as vítimas:

Elizamar Silva, de 39 anos: cabeleireira;

Thiago Gabriel Belchior, de 30 anos: marido de Elizamar Silva;

Rafael da Silva, de 6 anos: filho de Elizamar e Thiago;

Rafaela da Silva, de 6 anos: filha de Elizamar e Thiago;

Gabriel da Silva, de 7 anos: filho de Elizamar e Thiago;

Marcos Antônio Lopes de Oliveira, de 54 anos: pai de Thiago e sogro de Elizamar;

Renata Juliene Belchior, de 52 anos: mãe de Thiago e sogra de Elizamar;

Gabriela Belchior, de 25 anos: irmã de Thiago e cunhada de Elizamar;

Cláudia Regina Marques de Oliveira, de 54 anos: ex-mulher de Marcos Antônio;

Ana Beatriz Marques de Oliveira, de 19 anos: filha de Cláudia e Marcos Antônio.

As mortes ocorreram entre os dias 28 de dezembro passado e 15 de janeiro deste ano, produzidas com o emprego de arma de fogo, faca, fogo e muitos requintes de crueldade. Houve ainda crime de sequestro no qual uma casa localizada em uma chácara foi empregada como cativeiro.

Parte das vítimas foi encontrada em Cristalina-GO (Elizamar e três filhos menores), outra parte em Unaí-MG (Renata e Gabriela) e a terceira parte em Planaltina-DF (Marcos, Thiago, Cláudia e Ana).

Os suspeitos identificados foram: Gideon Batista de Menezes, Horácio Carlos Ferreira Barbosa, Fabrício Silva Canhedo, Carlomam dos Santos Nogueira e Carlos Henrique Alves da Silva (Galego). Há ainda um adolescente de 17 anos cuja participação segue sendo desvendada.

Um caso como esse certamente envolveu diversos elementos relativos às provas periciais produzidas. O primeiro grande desafio foi identificar os seis corpos carbonizados encontrados em Cristalina-GO e Unaí- MG, o que ficou a cargo da polícia científica dos respectivos estados de Goiás e Minas Gerais. Para tal foram empregadas as técnicas disponíveis, que seguem os protocolos de identificação: impressões digitais, exame de arcadas dentárias e DNA.

Com o descobrimento do cativeiro em Planaltina-DF, a perícia de local de crime teve um papel fundamental. Impressões digitais encontradas na residência “colocaram” novos envolvidos naquele local e também no radar da investigação. Quando os quatro corpos restantes foram localizados (primeiro o de Marcos e em seguida os outros três) as perícias realizadas desencadearam novos exames, que identificaram as últimas vítimas e documentaram todos os detalhes possíveis da barbárie, reconstituindo toda a dinâmica das ações, tanto no que refere às ações anteriores (preparação do crime) como às posteriores (ocultação dos corpos).

Outros exames foram realizados e envolveram documentos, aparelhos celulares e objetos. Cada detalhe desse caso serviu para compor o verdadeiro quebra-cabeças no qual ele se transformou.

A compreensão da motivação e o entendimento da psique das mentes executoras desses crime são da alçada da Criminologia. Esse entendimento não deixa de nos impressionar. A mera ganância é mesmo uma justificativa para a morte de 10 pessoas (sendo três crianças)? Surpreende também a audácia da avaliação equivocada dos criminosos em achar que não seriam alcançados. Tempos difíceis os nossos!

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