Mortes de Agentes da Segurança Pública no Estado do Pará
Após três dias sem registros de atentados aos agentes da segurança pública, o Pará parece ter virado a página e retomado o caminho para a redução da criminalidade, demonstrando ter sido acertada a estratégia de integrar órgãos da Segurança Pública estadual e municipal e, ainda, utilizar o planejamento estratégico e a inteligência de operações
Edson Marcos Leal Soares Ramos
Graduado em Estatística pela UFPA, Mestre em Estatística pela UFPE e Doutor em Engenharia de Produção pela UFSC. Professor titular do Programa de Pós-graduação em Segurança Pública da Universidade Federal do Pará. Conselheiro de Administração do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
No último dia 2 de maio, em meio às comemorações pela queda de 10%, no Pará, da quantidade de registros de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI, que reúnem casos de homicídio, latrocínio e lesão corporal seguida de morte), no primeiro quadrimestre de 2022, começou uma série de atentados contra agentes da segurança pública paraense.
O primeiro caso foi registrado em Abaetetuba, cidade a 219 km de Belém, e refere-se a um policial penal da reserva, que, ao sair de casa para comprar pão, foi assassinado com ao menos seis tiros. No dia 5 de maio, foi registrado o segundo caso, no qual um policial militar que teria tentado impedir a fuga de um grupo de assaltantes, foi baleado de raspão na região do braço. Também na capital paraense, no mesmo dia, foi registrado o terceiro caso, uma tentativa de homicídio contra um agente penitenciário, que veio a óbito 13 dias depois. Ainda no dia 5, o quarto crime vitimou fatalmente um investigador da Polícia Civil. Ele foi baleado na frente da própria casa, em cidade vizinha à capital paraense, Ananindeua.
Foram registrados 15 atentados contra agentes da segurança pública paraense, tendo sido mortos nove agentes, todos homens: Guarda Municipal (n = 1); Policial Civil (n = 1); Policial Militar (n = 3) e Policial Penal (n = 4). A maioria foi vitimada em cidades da Região Metropolitana de Belém (RMB): Ananindeua (n = 1); Belém (n = 4); Benevides (n = 1) e Marituba (n = 1). Além disso, outros dois municípios próximos à RMB tiveram vítimas fatais: Abaetetuba (n = 1) e Moju (n = 1).
Em relação ao modus operandi dos atentados contra os agentes da segurança pública paraense pôde-se observar que todos têm características de execução e que as vítimas apresentavam-se vulneráveis no momento dos ataques. Por exemplo: um agente teve sua casa invadida pelos criminosos e foi morto após ser atingido por três tiros na cabeça. Outra das vítimas estava chegando à sua casa, que fica numa rua sem saída, após o dia de trabalho como Guarda Municipal e, um policial da reserva estava juntamente com o sobrinho, menor de idade, também morto durante o atentado, quando faziam uma entrega de açaí num condomínio residencial. Eles foram alvejados por mais de 50 tiros. Quatro das nove vítimas fatais estavam na reserva. Isso pode indicar que os que planejaram os atentados acreditam que matar agentes da segurança pública na reserva é uma forma de atingir as instituições de segurança pública.
Oficialmente ninguém e/ou nenhum grupo assumiu a autoria pelos atentados aos agentes da segurança pública paraense. A motivação dos crimes tampouco foi esclarecida até agora. Os agentes dos Sistemas de Segurança Pública trabalham na tentativa de identificar os suspeitos e prendê-los. No dia de 18 de maio de 2022, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) prendeu um homem que estava foragido e com mandado de recaptura em aberto. Ele foi apresentado à Polícia Civil de Santarém, e é suspeito de planejar atentados contra agentes da segurança pública. Ele havia sido liberado pelo benefício de saída temporária e não tinha retornado. Segundo o superintendente da Polícia Civil no Baixo Amazonas, o suspeito é envolvido com facção criminosa. De acordo com levantamento da Polícia Civil, ele estaria planejando uma ação criminosa contra agentes da segurança pública.
A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (Segup), objetivando coibir a violência em todo os estado, colocou nas ruas cerca de 3 mil policiais militares, além de policiais civis, Corpo de Bombeiros Militar, Departamento de Trânsito do Estado, guardas municipais e órgãos de trânsito dos municípios. A operação denominada de “Impacto” integra as forças de segurança do Estado, em parceria com os órgãos municipais. Dentre ações previstas estão: (i) Operação Duas Rodas, de abordagem a motocicletas; (ii) Operação Saída e Chegada Segura, em que a Polícia Militar realiza fiscalização em ônibus; (iii) Operação Parador, de combate à exploração sexual de crianças e adolescentes; (iv) Operação Lei Seca e (v) Operação Tolerância Zero, contra a poluição sonora e estabelecimentos irregulares que funcionam pela cidade.
Após cinco dias de iniciada a operação “Impacto”, foram realizados 287 prisões em flagrante, 89 cumprimentos de mandados de prisão e recapturas, 65 prisões em flagrante por tráfico de drogas, além da apreensão de 15 armas de fogo e entorpecentes. Um dos suspeitos capturados admitiu ter recebido mil reais para participar do assassinato de um policial militar da reserva. Especificamente na capital paraense numa ação conjunta, a Guarda Municipal de Belém e as polícias Civil, Militar e Penal estiveram nas ruas com intuito de recapturar os monitorados que não retornaram ao cárcere logo após o benefício da saída temporária do Dia das Mães.
Com a sensação de que o pior já passou, após três dias sem registros de atentados aos agentes da segurança pública. o estado do Pará parece ter virado essa página e retomado o caminho para redução da criminalidade, demonstrando ter sido assertiva a estratégia de integrar órgãos da Segurança Pública estadual e municipal e, ainda, utilizar o planejamento estratégico e a inteligência de operações.