Joel Novaes
Jornalista no Instituto Recomeçar
Não podemos pensar na cidade de São Paulo sem considerar as desigualdades presentes no território. Segundo o Mapa da Desigualdade de 2022, da Rede Nossa São Paulo, cerca de 9,4% da população da cidade vive em favelas. O percentual chega a 32,7% no distrito da Vila Andrade, zona sul paulistana, e a 25,1% na Brasilândia, na zona norte. Entre os 96 distritos que compõem a capital paulista, apenas dez não têm famílias morando em assentamentos informais, sem infraestrutura e segurança jurídica.
Na periferia, as marcas da violência estão presentes em cada beco e viela. A desigualdade é marca do território, que tem um denominador comum: a experiência do cárcere. Pensar nas políticas públicas considerando o contexto do território é fundamental para pensar na superação das desigualdades e, principalmente, na construção de uma sociedade menos violenta e que tem a garantia dos direitos humanos enquanto pauta. Nesse sentido, o Instituto Recomeçar, instituição do terceiro setor que atua com o objetivo de reintegrar egressos do sistema prisional, lançou o projeto “De Quebrada em Quebrada – Desenvolvendo Gente”.
O Instituto Recomeçar foi fundado em 2015 e atua com time multidisciplinar formado por profissionais das áreas de Comunicação, atenção psicossocial, educação e administração. Centenas de egressos já passaram pelo Instituto e foram recolocados no mercado de trabalho. A criação do programa se deu em outubro de 2023.
O “De Quebrada em Quebrada” tem como objetivo a formação de líderes sociais que atuem nos territórios e sua capacitação para trabalhar na prospecção e atendimento de pessoas egressas do sistema carcerário. O projeto consiste na formação técnica, fornecida para lideranças de comunidades localizadas nas periferias, através da plataforma de Educação, criada pelo Instituto Recomeçar, e complementada mais adiante por mentorias oferecidas pela equipe técnica da organização.
A premissa é o emprego do diálogo, da escuta e da percepção da realidade através do contato, de forma a traçar estratégias no reposicionamento social daqueles que foram encarcerados. Assim, a ideia é a capacitação de líderes das comunidades, começando por São Paulo, e expandindo pelo Brasil: a meta é capacitar 200 líderes, e cada capacitação tem como tempo médio 30 dias.
O horizonte é a conquista de vagas de emprego e a reconstrução de suas vidas, famílias e dignidades. Um dos principais eixos dessa reinserção social é o acesso a emprego e renda. O projeto foi pensado por Leonardo Precioso, ex-jogador de futebol, egresso do sistema carcerário e fundador do Instituto Recomeçar. É dessa forma que pretende dar o pontapé inicial para colaborar com a reinserção social de pessoas egressas das unidades prisionais.