Caso Cuca: chamem as provas periciais para testemunhar!
Nesse tipo de crime, quando não existem provas materiais para se embasar, a análise recai sobre a palavra das vítimas em oposição às palavras dos acusados. Já quando há evidências materiais, estas costumam pesar sobremaneira nas sentenças
Cássio Thyone Almeida de Rosa
Perito Criminal Aposentado da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) e professor da Academia da PCDF, da Academia Nacional de Polícia da Polícia Federal e do Centro de Formação de Praças da PMDF. Graduado em Geologia pela UNB, com especialização em Geologia Econômica. É também Presidente do Conselho de Administração do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
No último dia 20 de abril, o técnico Cuca, cujo nome é Alexi Stival, foi anunciado pelo Corinthians como novo comandante da equipe. Com passagens em diversos clubes de ponta do futebol brasileiro, e também com importantes títulos conquistados, Cuca enfrenta desde 1987 acusações de envolvimento em um crime de estupro ocorrido na Suíça durante uma excursão do time do Grêmio, onde jogava à época. Desde que passou a comandar grandes equipes na função de treinador, o assunto sempre acompanhou Cuca, obrigando que tivesse de lidar com as repercussões que o fato acarretava. Com a crescente indignação que esse tipo de crime tem gerado, a sociedade organizada não apenas repudia o fato, mas emprega o envolvimento de pessoas públicas para gerar uma importante discussão que cumpre uma necessária finalidade: mudar essencialmente um comportamento.
Casos envolvendo jogadores de futebol, verdadeiras celebridades, fazem parte desse contexto: os casos de Robinho, ex-jogador do Santos e da seleção brasileira, e de Daniel Alves, ex-jogador do São Paulo e da seleção, são apenas alguns dos exemplos.
Desta vez a mídia não apenas recuperou os fatos ocorridos em 1987 com o então jogador Cuca, mas revelou novas e importantes provas que vão em desacordo com o que ele afirma em sua defesa ao falar sobre o caso.
Relembrando os fatos:
Cuca defendia o Grêmio como jogador à época. Em Berna, na Suíça, ele e outros três jogadores (Eduardo, Fernando e Henrique) foram detidos sob a alegação de terem feito sexo sem consentimento com uma menina de 13 anos. Os quatro foram liberados após quase um mês de detenção. Dois anos depois, Cuca, Eduardo e Henrique foram condenados a 15 meses de prisão. Fernando foi absolvido da acusação de atentado ao pudor e condenado por estar envolvido em ato de violência. Como o Brasil não possuía acordo de extradição, nenhum dos envolvidos cumpriu a pena.
Do ponto de vista pericial, o que se pode verificar é que o testemunho mais uma vez está em desacordo com o que mostram as provas técnicas. Nesse tipo de crime, quando não existem provas materiais para se embasar, a análise recai sobre a palavra das vítimas em oposição às palavras dos acusados. Já quando há evidências materiais, estas costumam pesar sobremaneira nas sentenças.
Durante a entrevista concedida em sua apresentação, o técnico Cuca afirmou:
“Não vou ficar em casa me escondendo, sou inocente…É um tema delicado, pessoal meu, mas eu faço questão de falar sobre ele e tentar ser o mais aberto possível quanto a isso. Ocorreu há 37 anos, em 1987, eu era emprestado do Juventude, devia estar no Grêmio uns 15, 20 dias, fiquei 1 semana para tirar passaporte e tenho uma vaga lembrança de tudo que aconteceu, tinha 23 anos na época, nós iríamos jogar uma partida, subiu uma menina para o quarto que eu estava com mais 3 jogadores, essa foi minha participação nesse caso, sou totalmente inocente, não fiz nada“. “Essa é minha participação no caso, eu sou totalmente inocente, eu não fiz nada. As pessoas falam que houve um estupro. Houve um ato sexual com uma vulnerável. Essa foi a pena dada”. (Grifo nosso)
No caso de Cuca, a imprensa trouxe informações bastante relevantes em relação a provas produzidas à época. A mídia noticiou que em 1989, período em que se deu o julgamento, o tradicional jornal suíço Der Bund, fundado em 1850 em Berna, publicou que a investigação teria encontrado vestígios de esperma de Cuca e de outro jogador no corpo da menina. Trecho da matéria publicada em 16 de agosto de 1989 no Der Bund revela:
“O relatório forense posteriormente mostrou vestígios de esperma dos dois jogadores Alexi e Eduardo no corpo da menina“. (Alexi é Cuca).
Baseando-se no fato de que Cuca foi condenado, parece lógico supor que mesmo a falta de reconhecimento por parte da vítima não foi considerada mais importante que a prova técnica do vestígio de DNA (no esperma) encontrado na menor de idade.
O caso que envolve o jogador já prescreveu, mas a memória que envolve o fato dá claras mostras de que não vai abandoná-lo jamais. O embate entre as modalidades de provas segue pautando o debate e servindo como moldura num contexto muito maior: a busca por tornar esse tipo de crime não apenas abominável, mas de contribuir para que ele não seja ignorado. “Respeita as Minas”!