Glauco Silva de Carvalho
Bacharel em Direito (USP), mestre e doutor em Ciência Política (USP). Coronel da reserva da PMESP, foi diretor de Polícia Comunitária e Direitos Humanos e Comandante do Policiamento na Cidade de São Paulo
Não é novidade para ninguém que amplos contingentes das Forças Armadas e das polícias militares são bolsonaristas. Não foram poucos os que me advertiram e admoestaram acerca do que “viria a ser o governo Lula”.
Esse espaço me foi concedido gentilmente para, a cada 15 dias, correlacionar segurança pública, polícia e política. Durante quase quatro anos, quinzenalmente, escrevi artigos ácidos contra Bolsonaro e sua trupe. Aos meus amigos e colegas, tenho que admitir que não me arrependo do que disse, falei ou agi nesse logo e tenebroso inverno que foi o governo Bolsonaro.
Isso não obsta, por decorrência, que eu assuma a mesma postura em relação a Lula. Reconheço, ainda assim, o papel de Lula ao longo dos últimos 40 anos no Brasil: foi capaz de montar o maior partido de esquerda da América Latina; foi corajoso o suficiente para enfrentar seus processos sem se homiziar no exterior; foi competente para governar o Brasil por oito anos e não se atrever a tomar os rumos dos caudilhos autoritários latino-americanos.
Este seu terceiro mandato, no entanto, vai de mal a pior. Suas falas são populistas baratas e em nada colaboram para o encaminhamento de um futuro melhor para a nação.
Suas críticas à operação da Polícia Federal, da Polícia Militar de São Paulo e do Ministério Público são daquelas falas que desbancam qualquer esperança de um futuro melhor para nossos filhos. Lula, de maneira muito indisfarçada, alegou que haveria uma trama por trás da operação para prender elementos do Primeiro Comando da Capital (PCC) que estariam orquestrando a morte do ex-juiz Moro e do promotor Lincoln Gakyia, do GAECO e do Ministério Público de São Paulo. Nada mais estapafúrdio.
A juíza Gabriela Hardt, a fim de se legitimar, talvez por ser jovem, quebrou o sigilo de partes do processo. Vai-se, com essa medida, o sigilo de fontes e as estratégias da operação. A fala de Lula conseguiu, a um só ponto, um verdadeiro strike, seja no mundo policial, seja no político.
Mas Lula é um animal político por excelência. Isso é indiscutível. Somem-se a essas falas as suas críticas em assuntos da área econômica, como os juros. Foram todas catastróficas.
Tenho três hipóteses para tais desastres:
Lula estaria ficando com certa idade e, como todos nós, sem exceção, ficamos sem certos reflexos e papas na língua, como dizia minha avó. Vamos falando o que “dá na telha”.
Outra hipótese é que Lula tem plena consciência de que seu governo 3 não chegará nem perto do que foram seus dois primeiros. Sem base sólida no Congresso (já que ele não pode mais usar os instrumentos de que se valeu em seu primeiro governo e que levaram à queda de Dirceu e Palocci); sem ventos favoráveis na área econômica, no âmbito doméstico ou no internacional; sem um país minimamente pacificado, suas chances de sucesso são realmente sofríveis. Diga-se, antes de mais nada, que, a meu ver, esse governo é muito mais simplório do que foram seus dois anteriores. Na área da segurança pública, pouco ou quase nada se vê ou se viu em quase três meses de governo. É pouco tempo, não podemos ser afoitos ou prematuros em análises, mas o que se prospecta para essa área é o uso de câmeras, uma inovação de oficiais da Polícia Militar de São Paulo, tendo à frente o coronel Cabanas.
A terceira hipótese é a de que o governo de “união nacional” não passou de mote para a eleição e o que temos é, realmente, uma tentativa de vingança, de vendeta, de manter o terceiro turno para, na polarização, conseguir unificar seus correligionários e garantir o Fla x Flu. Lula, nessa hipótese, estaria consciente de que o governo realmente caminha para o fracasso e para o não cumprimento das promessas de campanha. Nessas condições e circunstâncias, apenas manter seu eleitorado mobilizado na raiva e no ódio lhe daria condições de caminhar para as eleições de 2026 em condições de enfrentamento a qualquer adversário.
Ou, talvez, uma conjugação das três hipóteses anteriores.
A verborragia de Lula, ao mesmo tempo que unifica seu “exército”, traga qualquer esperança de dias melhores. O fígado, por ora, está a falar mais alto do que o coração. Lulinha “paz e amor” parece ser coisa do passado. Vislumbra-se que, sem mensalão, sem petrolão, sem os Dirceus e os Paloccis da vida, a política por si só, não avança no Brasil.
Pobre país.