Renata Braz das Neves Cardoso
Tenente-Coronel da PMDF, Doutoranda em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional pela Universidade de Brasília
José Francisco Scartezini
1º Sargento da PMDF
Herberth Freitas
Major da PMDF
Leandro Lima e Silva
Major da PMDF
A segurança nas escolas não se resume à vigilância ostensiva. Envolve, cada vez mais, a criação de ambientes que favoreçam o pertencimento, a convivência e a prevenção de violências de forma integrada. Nesse sentido, a metodologia CPTED (Crime Prevention Through Environmental Design) vem ganhando espaço como estratégia promissora ao propor que o próprio desenho dos espaços seja parte da solução.
CPTED baseia-se na ideia de que o ambiente físico pode influenciar comportamentos e percepções. No contexto escolar, isso se traduz em medidas como reforço da vigilância natural, controle de acessos, boa manutenção dos espaços, sinalização eficaz e valorização do território escolar. Esses elementos podem contribuir para reduzir situações de risco, fortalecer vínculos comunitários e ampliar o sentimento de segurança.
A metodologia, contudo, não se limita à estrutura física. A proposta envolve um olhar participativo, com o envolvimento da comunidade escolar, das famílias e dos órgãos públicos na elaboração e implementação das soluções. Em vez de respostas reativas, trata-se de prevenir conflitos e violências por meio do cuidado com o espaço e da corresponsabilidade.
No Distrito Federal, uma experiência recente de aplicação da CPTED em escolas foi estruturada no âmbito do programa Guardião Escolar, conduzido pela Polícia Militar. A iniciativa utiliza diagnósticos técnicos para mapear vulnerabilidades e propor intervenções adaptadas à realidade de cada instituição. Apesar de resultados iniciais animadores — como a diminuição de ocorrências em áreas vulneráveis e maior sensação de segurança relatada por alunos e docentes —, a implementação ainda esbarra em desafios como a articulação intersetorial, a limitação de recursos e a manutenção dos pactos de corresponsabilidade ao longo do tempo.
O caso do Centro Educacional Cívico-Militar CED 01 da Estrutural, por exemplo, permitiu observar como mudanças no espaço físico, aliadas a ações educativas, podem repercutir positivamente no cotidiano escolar. A experiência foi levada à Conferência Internacional da CPTED (ICA), em Palm Springs, em 2025, o que demonstra o crescente interesse internacional por soluções que conectem urbanismo, educação e segurança pública.
Discutir segurança nas escolas sob a ótica da CPTED permite ampliar o debate para além do controle e da repressão. É reconhecer que o ambiente escolar também comunica valores, influencia relações e pode ser um agente ativo na construção da paz. O desafio está em integrar saberes, escutar os diferentes atores e garantir que as transformações não sejam apenas cosméticas, mas sustentáveis e coerentes com os contextos em que se inserem.