Perícia em evidência 27/11/2024

Serial killer de Maceió: como a perícia foi decisiva na investigação e identificação do predador

O trabalho pericial apontou que todos os assassinatos foram cometidos com uma mesma arma de fogo, uma pistola calibre .380 pertencente ao pai do agressor, um policial militar da reserva

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Cássio Thyone Almeida de Rosa

Membro do Conselho de Administração do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Graduado em Geologia pela UnB, com especialização em Geologia Econômica. Perito Criminal Aposentado (PCDF). Professor da Academia de Polícia Civil do Distrito Federal, da Academia Nacional de Polícia da Polícia Federal e do Centro de Formação de Praças da Polícia Militar do Distrito Federal

Periodicamente deparamos no noticiário com casos envolvendo predadores seriais homicidas conhecidos como serial killers. Há duas semanas, tivemos relato desse tipo, ocorrido em Maceió.

Albino Santos de Lima, de 42 anos, preso desde o último mês de setembro, é acusado, até o momento em que fechamos este texto, de matar dez pessoas nos bairros Vergel do Lago e Ponta Grossa, na capital alagoana. As vítimas tinham idades entre 14 e 25 anos; sete eram mulheres, uma delas, trans. O primeiro homicídio ocorreu em outubro de 2023. Em dezembro do ano passado, ele matou outras quatro pessoas. As cinco mortes restantes ocorreram este ano, nos meses de janeiro, junho e agosto. Dos dez homicídios atribuídos a ele até o momento, oito já foram admitidos em depoimento pelo acusado e os dois cuja autoria ele não reconhece apresentaram provas irrefutáveis, expressas em laudos balísticos.

Importante que se possa dar visibilidade também às vítimas do serial killer, aqui nomeadas:

  • Mikaele Leite Da Silva, 21 anos;
  • Louise Melo, 18 anos, estudante;
  • Beatriz Henrique da Silva, 25 anos, doméstica;
  • Debora Vitoria Silva Dos Santos, 21 anos, ambulante, e o namorado John Lenno Santos Ferreira, masculino, 20 anos, ambulante;
  • Joseildo Siqueira Silva Filho, 24 anos, ambulante;
  • Tamara Vanessa da Silva Santos, 21 anos, doméstica;
  • Emerson Wagner da Silva, 17 anos, estudante e barbeiro;
  • Ana Clara Santos Lima, 13 anos, estudante;
  • Anna Beatriz Santos Tavares, 13 anos, estudante.

Nos casos que envolvem esse tipo de ocorrência, um dos aspectos mais relevantes é a possibilidade (e necessidade) de se estabelecer de forma segura a relação entre casos isolados, permitindo-se assim atribuir uma mesma autoria e caracterizar o aspecto seriado para os crimes. Nesse aspecto, investigação e trabalho pericial precisam funcionar em sincronia e de forma efetiva. Foi o que aconteceu neste caso. A perícia teve papel crucial para a identificação do criminoso, já descrito como o maior serial killer de Alagoas.

Todas as mortes foram cometidas com uma mesma arma de fogo, uma pistola calibre .380 pertencente ao pai do agressor, um policial militar da reserva. O próprio criminoso tem em seu histórico o fato de ter sido agente penitenciário do estado durante dez anos.

Para chegar ao acusado, as investigações empregaram inicialmente imagens de câmeras com gravações dos dias em que as vítimas foram mortas. A polícia suspeitou de um homem visto frequentemente trajando roupa preta, máscara e boné, presente em várias imagens. Identificado por moradores, passou a ser monitorado e quando as suspeitas aumentaram um mandado de prisão, além de busca e apreensão para a residência onde morava com o pai, foram cumpridos. Naquela diligência, uma pistola .380 restou apreendida.

Com os projéteis de arma de fogo coletados em diversas vítimas (ou até mesmo nos locais de crime) foi a vez de a perícia trabalhar na identificação do autor. Confrontos balísticos comprovaram a relação necessária para a autoria dos dez homicídios, todos cometidos com a mesma arma. Outros elementos de prova importantes também acessados pelos exames periciais, como os exames de seu celular, permitiram que se conhecesse um pouco mais da personalidade do serial killer:

  • Albino planejava seus crimes, muitas vezes escolhendo as vítimas por redes sociais, em especial aquelas que tinham rotinas diárias expostas abertamente nas redes (Instagram comumente). Um padrão foi identificado para as vítimas mulheres: jovens, morenas e bonitas. Não havia contato com elas, nem mesmo por redes sociais;
  • Ele destacava com a cor vermelha no calendário de seu celular as datas em que cada homicídio havia sido cometido;
  • Em alguns casos chegou a fazer selfies em frente às lápides das vítimas no cemitério;
  • Colecionava prints com as reportagens sobre as mortes de suas vítimas.

O modus operandi para este predador serial inclui:

  • Mortes praticadas à noite;
  • Deslocamento a pé;
  • Uso de vestimentas pretas e máscara;
  • Emprego de arma de fogo;
  • Um a cinco disparos, sempre elegendo a cabeça das vítimas;

O número total de crimes cometidos por esse serial killer ainda pode aumentar. Há outros oito assassinatos, ainda sem autoria definida, ocorridos entre 2019 e 2020 em outra região da cidade onde Albino também morava à época. As suspeitas ganham força porque a perícia também encontrou no calendário do celular dele marcações nas datas dessas mortes. Os inquéritos relativos a essas mortes, que já haviam sido arquivados, serão agora reabertos para novas investigações.

Como é praxe nas alegações de defesa em casos desse tipo, o advogado, a pedido do acusado, planeja alegar que ele não tem sanidade mental para responder por seus crimes. Certamente será submetido a exames psiquiátricos por peritos médicos visando a apontar sua imputabilidade ou não, ou até mesmo uma semi-imputabilidade. O que estará em discussão é se ele apresenta capacidade de entendimento e determinação para agir.

Em sua grande maioria, os casos que envolvem criminosos com ações semelhantes ao serial killer de Maceió não derivam para a identificação de doenças mentais, e sim de desvios de conduta (psicopatia). Mas essa e outras respostas sobre sua psique somente podem ser obtidas com diagnósticos precisos.

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