Mulheres e Segurança Pública 20/03/2024

Projeto “Reinventando Masculinidades” em Amambai, MS: a Polícia Militar construindo uma proposta de ação humanizadora

Objetivos colocados são a redução da reincidência da violência perpetrada por homens contra as mulheres, bem como atuar no cumprimento das medidas protetivas, evitando uma nova prisão

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Adelino Aparecido de Oliveira Schibilski

Praça da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul desde 2010, atualmente 3º Sargento, lotado na 3ª Companhia Independente de Polícia Militar em Amambai. Atua no setor de projetos e programas, como membro da equipe técnica do Programa Mulher Segura (PROMUSE). Idealizador e instrutor do projeto Reinventando Masculinidades e instrutor do Programa Educacional de Resistência às Drogas (PROERD)

Tânia Regina Zimmermann

Professora da graduação e pós-graduação da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul. Pós-doutorado em História

Neste artigo, delineamos o estudo “Projeto ‘Reinventando Masculinidades’ em Amambai, MS” em seus objetivos, escopo teórico-metodológico e primeiros resultados da ação no município de Amambai, Mato Grosso do Sul. A problemática que lançamos no projeto é diminuir a reincidência da violência perpetrada por homens contra as mulheres, bem como atuar no cumprimento das medidas protetivas, evitando uma nova prisão. Também vislumbramos que a proposta pode ter um alcance maior, como a educação de gênero voltada para a prevenção da violência interseccional, pois esta é fundamental para preparar/refletir sobre relacionamentos e construção de famílias bem como sobre as posições identitárias pai/mãe, esposo/esposa, feminino/masculino. Concluímos que, no âmbito da segurança pública, essa experiência com o projeto permite uma efetiva concretização da filosofia de polícia comunitária e, no campo judicial, a concretização da justiça restaurativa.

A implantação do “Projeto Reinventando Masculinidades”, em outubro de 2020, na cidade de Amambai, está relacionada a um projeto anterior chamado de “Programa Mulher Segura” da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul (PROMUSE PMMS), pois é da experiência profissional na execução deste que urgia a necessidade formativa para homens autores de violência sobre relações de gênero e violência contra a mulher. Em ambos os projetos, o Sargento da PM Adelino Aparecido de Oliveira Schibilski desempenha papel importante na unidade em que serve, atuando na parte técnica do PROMUSE e como coordenador de ações do “Reinventando Masculinidades”, colaborando para a projeção, organização, execução e avaliação das propostas no âmbito da 3ª Companhia Independente de Polícia Militar (3ªCIPM).

A centralidade desse projeto está na categoria “masculinidades”, a qual procura entender o movimento histórico de sua construção, bem como o lugar que ocupa na produção da violência contra mulheres, crianças e dissidentes. Em 1949, Simone de Beauvoir, na sua mais conhecida obra, O segundo sexo, postulou que “não se nasce mulher, torna-se mulher”. Essa frase foi impactante, pois a partir dessa afirmação percebeu-se sua extensão para os demais corpos. Isso inclui pensar que, também “não se nasce homem, torna-se homem?” Essa discussão certamente arvora nos estudos de gênero e violência, pois rompe com construções marcadas e naturalizadas para os mais diferentes gêneros enquanto uma imposição e não como um dos modos de se posicionar no mundo.

Em princípio nos centramos na masculinidade hegemônica, pois suas práticas aduzem a efeitos nefastos sobre o próprio sujeito como nos seus assujeitados sob as pressões sociais. Convém pontuar, com base no trabalho de Pierre Bourdieu sobre A dominação masculina, de 1998, que os “sujeitos” também são assujeitados pela estrutura social e simbólica. No entanto, existem consequências diferenciais entre “sujeitos” e “assujeitados”, ou seja, privilégios para uns, desigualdades para outros. O conceito dessa masculinidade pode ser elucidativo, apesar das críticas discutidas por Robert Connell e James Messerschmidt. Estas autoras o entendem como configurações de práticas em torno da posição de homens nas relações de poder cujas referências socialmente legitimadas para a vivência do masculino incluem práticas como rigidez, machismo, sexismo para a continuidade da dominação das mulheres e dissidentes.

Partindo dessas assertivas iniciais, atingimos o objetivo principal das ações do projeto ao enfrentar as expressões da violência doméstica e familiar contra a mulher através do atendimento aos homens autores de violência, sua responsabilização nos atos, tratando as configurações dos conflitos domésticos em sua dialogicidade e diminuindo a reincidência de violações contra mulheres. Também visamos contribuir para a equidade de gênero, conceito desenvolvido por Joan Scott (1989); com campanhas educativas voltadas para os (as) autores (as) para inibir a violência doméstica e familiar contra as mulheres bem como refletir sobre a Lei Maria da Penha, seus desdobramentos e a violação de direitos humanos.

* Artigo completo disponível na Revista Brasileira de Segurança Pública, v. 18, n. 1 (2024)

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