A morte de cinco pessoas de uma mesma família no RS: quais os exames periciais que vão ajudar a esclarecer o fato
Confrontos balísticos de estojos podem ser esperados, uma vez, que, em espingardas de calibre 12, confrontos de projéteis não são possíveis pois não se tratam de armas com raiamentos no interior do cano
Cássio Thyone Almeida de Rosa
Graduado em Geologia pela UNB, com especialização em Geologia Econômica. Perito Criminal Aposentado (PCDF). Professor da Academia de Polícia Civil do Distrito Federal, da Academia Nacional de Polícia da Polícia Federal e do Centro de Formação de Praças da Polícia Militar do Distrito Federal. Ex-Presidente e atual membro do Conselho de Administração do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
No último dia 27 de abril, o bairro de Santa Tereza, na zona sul de Porto Alegre, acordou com uma notícia estarrecedora. Em um condomínio de luxo, localizado na Rua Dona Maria, próximo à Rua Silveiro, a polícia encontrou cinco membros de uma família mortos em um imóvel dotado de três pisos.
A polícia militar do Rio Grande do Sul, que tem a denominação de Brigada Militar, atendeu a ocorrência e isolou o local. A perícia ficou a cargo do Instituto Geral de Perícias (IGP).
As vítimas eram o empresário Otávio Driemeyer Júnior, 44, sua esposa Lisandra Lazaretti Driemeyer, 45, o filho do casal, Enzo Lazaretti Driemeyer, 14, a mãe de Otávio, Delci Driemeyer, 79, e a mãe de Lisandra e sogra de Otávio, Geraldina Lazaretti, 81.
As informações disponibilizadas pela mídia deram conta de que o empresário da área de alimentos teria sido o responsável pelos homicídios da esposa, do filho, da mãe e da sogra, para em seguida cometer o suicídio. Nessa versão, o autor teria empregado duas armas, a saber, espingardas de calibre 12. Os corpos foram encontrados em cômodos onde as vítimas costumavam dormir. O corpo do empresário foi encontrado junto ao do filho e sobre uma das armas, o que fez com que a princípio a cronologia das mortes indicasse que o filho tivesse sido o último a ser morto antes que o autor tirasse a própria vida.
Ainda, em relação às informações divulgadas, havia na residência uma mulher, também familiar e que sobreviveu à chacina. Essa testemunha-chave teria mencionado que o autor lhe dera uma medicação para dormir na véspera do fato, levantando assim a suspeita de que todas as vítimas também tenham recebido algum tipo de medicação que as faria adormecer de maneira mais profunda.
Entre as vítimas, duas estavam no mesmo quarto: a sogra e a mãe do empresário. Uma delas, a mãe, teria recebido o primeiro disparo. A sogra teria, em tese, acordado e aparentemente tentado se defender, já que apresentava uma lesão em uma das mãos. Nas demais vítimas não haveria qualquer vestígio de reação e todas estariam deitadas em suas camas. A primeira linha de investigação cogita que problemas relacionados a questões financeiras do suposto autor, com dívidas da ordem de R$ 30 milhões, tenham relação direta com a motivação dos crimes.
Sobre o relato do caso, já podemos antever o alcance do trabalho que os peritos do IGP-RS terão a empreender e como poderão, certamente, contribuir de forma substancial para sustentar ou refutar as impressões e constatações iniciais.
O laudo de perícia de local de crime: será fundamental para confirmar a dinâmica de como os fatos se deram naquela residência. A cronologia das mortes, a sequência empreendida e em especial a confirmação de um provável suicídio do empresário farão parte desse laudo. É o que chamamos de confirmação do diagnóstico diferencial dos fatos.
Os laudos cadavéricos: produzidos pelo Instituto de Medina Legal apresentarão a causa da morte de cada uma das cinco vítimas. Todas terão suas lesões descritas em detalhes em função dos instrumentos empregados (armas de fogo).
Os laudos balísticos: serão fundamentais para confirmar o emprego das armas calibre 12 supostamente empregadas. Confrontos balísticos de estojos podem ser esperados, uma vez que, neste tipo de arma, confrontos de projéteis não são possíveis pois não se tratam de armas com raiamentos no interior do cano (armas de alma lisa) e os projéteis múltiplos (balins) não apresentam nenhuma marca deixada pelo interior do cano das armas.
Os laudos toxicológicos: Serão especialmente importantes para verificar a hipótese de que as vítimas tenham ingerido alguma substância capaz de produzir uma dopagem, interferindo na capacidade de percepção e reação dessas vítimas.
Os laudos em dispositivos: aparelhos celulares podem ser objeto de análise e produção de laudos no caso, colaborando assim para as investigações. Pode repercutir também na questão o entendimento motivacional do suposto autor.
Laudos em filmagens: eventualmente serão analisadas imagens de circuitos internos do condomínio onde a família residia. Essas imagens serão fundamentais para se excluir a possiblidade de acesso a pessoas estranhas e confirmar as hipóteses até aqui apresentadas pelas autoridades, auxiliando na exclusão de pessoas externas no evento.
Pela relação de possibilidades de exames percebemos que os colegas peritos criminais e médico-legistas terão muito trabalho pela frente!