Múltiplas Vozes 26/10/2022

O treinamento das forças de segurança pública para reprimir o “novo cangaço”

Essa preparação prima pelo emprego tático e planejado de todo o efetivo policial, com o apoio decisivo do Comando de Missões Especiais da PMPR, que conta com policiamentos especializados, tais como o Esquadrão Antibombas e o emprego de cães farejadores

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Danilo Azolini

1º Tenente da PMPR e mestrando do Programa de Pós-graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina

Cleber Lopes

Coordenador do Programa de Pós-graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina e do Laboratório de Estudos sobre Governança da Segurança da mesma instituição

Os crimes violentos contra o patrimônio conhecidos como “novo cangaço” ou “domínio de cidades” vêm se multiplicando pelo país. Nessa modalidade de ação, grupos de dezenas de criminosos que se deslocam em comboios de carros blindados, tomam de assalto, via de regra, cidades de pequeno ou médio porte com armas de alto potencial de destruição, táticas de guerrilha, planejamento minucioso e uso de explosivos para roubar instituições financeiras ou empresas de guarda e transporte de valores. Em muitos casos essas ações de extrema violência tomam moradores de refém e os usam como escudos contra a ação de Forças Policiais, que por vezes acabam sendo sitiadas localmente e taticamente neutralizadas.

A ruptura violenta da ordem pública provocada por essas ações leva pânico aos moradores das cidades dominadas e desafia as Forças de Segurança Pública, que em geral não estão preparadas para antecipar ocorrências, restabelecer a ordem e prender criminosos que seguem esse modus operandi. A obtenção dessas capacidades requer, dentre outras coisas, investimento em treinamentos e técnicas operacionais. Nesse contexto, iniciativas como o curso on-line “Crimes Contra o Sistema Financeiro – Novo Cangaço: Aspectos Operacionais da Prevenção e Repressão a Delitos contra Instituições Bancárias”, ofertado recentemente pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), são importantes e bem vindas. O mesmo pode ser dito a respeito de treinamentos práticos tais como os que vêm sendo promovidos pela Polícia Militar do Paraná (PMPR).

Os treinamentos promovidos pela PMPR visam melhorar a resposta do poder público do Paraná ao “novo cangaço”, que tem acometido cidades do estado. Em abril deste ano, por exemplo, o alvo foi uma empresa de transporte de valores localizada em Guarapuava, a cerca de 250 km da capital Curitiba.  A ação aterrorizou a cidade e resultou na morte de um policial militar, além de duas outras pessoas feridas (um morador e outro policial militar). Esse e outros casos registrados requereu à PMPR que aperfeiçoasse o planejamento estratégico das Agências de Inteligência, das Unidades de Operações Especiais e das Unidades Operacionais de área que realizam o policiamento rotineiro nas cidades. Para isso, vêm sendo promovidos treinamentos teóricos em eventos como o Simpósio realizado pelo Batalhão de Operações Especiais (BOPE) em junho deste ano, que buscou nivelar o conhecimento sobre ações do “novo cangaço” para policiais que atuam nessas unidades em todo o estado. Além disso, estão sendo realizados treinamentos práticos que simulam o teatro de operações relativo ao “domínio de cidades”. Por ora, treinamentos desse tipo já foram realizados nos municípios de São José dos Pinhais (Região Metropolitana de Curitiba), Londrina, Umuarama e Paranaguá.

Os treinamentos que simulam o “domínio de cidades” por grupos criminosos visam colocar em prática todos os aspectos técnicos e táticos policiais, com a aplicação de um planejamento estruturado com policiais militares dos variados segmentos da PMPR – equipes de Radiopatrulhamento (RPA), equipes táticas das Unidades Operacionais (ROTAM e CHOQUE), o Batalhão de Operações Especiais (BOPE), o Batalhão de Operações Aéreas (BPMOA), o Batalhão de Fronteira (BPFRON) e as Agências de Inteligência da organização. Nesses treinamentos, todas essas unidades são desafiadas a atuar de maneira coordenada e integrada com as demais Forças de Segurança Pública (Polícia Rodoviária Federal, por exemplo) que podem desempenhar papéis relevantes na repressão aos criminosos, tais com o bloqueio de rotas de fuga. Esses treinamentos primam pelo emprego tático e planejado de todo o efetivo policial, com o apoio decisivo do Comando de Missões Especiais da PMPR, que conta com policiamentos especializados, tais como o Esquadrão Antibombas para desarticulação de explosivos e o emprego de cães farejadores para a busca de criminosos escondidos em matas ou locais de difícil acesso.

Os treinamentos práticos que estão sendo realizados nas cidades do Paraná também contam com o uso de tecnologias, que têm sido um fator crucial para o êxito das ações de proteção da população. Exemplos de tecnologias usadas nesses treinamentos são os drones com câmeras termais e os óculos de visão noturna para os membros de tropas de operações especiais, que permitem a identificação de criminosos a longas distâncias. Por meio da combinação de treinamentos táticos com o uso de novas tecnologias de segurança, a PMPR busca aprimorar a doutrina policial de emprego da tropa em territórios que podem ser alvo de ações do “novo cangaço”. O objetivo último é aperfeiçoar as ações de preservação da ordem pública e, principalmente, estabelecer plenas condições para a defesa da integridade da população e dos policiais.

O treinamento, nivelamento e capacitação dos agentes de segurança pública do país se constitui como uma das principais medidas para o desenvolvimento de repressão qualificada para o enfrentamento de organizações criminosos e proteção da sociedade. Assim, os gestores públicos devem priorizar o treinamento como uma das medidas fundamentais para lidar com o chamado “novo cangaço”, que coloca em risco a integridade da população e impõe desafios enormes à atuação das Forças de Segurança Pública.

 

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