Perícia em evidência 26/04/2023

Caso Cuca: chamem as provas periciais para testemunhar!

Nesse tipo de crime, quando não existem provas materiais para se embasar, a análise recai sobre a palavra das vítimas em oposição às palavras dos acusados. Já quando há evidências materiais, estas costumam pesar sobremaneira nas sentenças

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Cássio Thyone Almeida de Rosa

Perito Criminal Aposentado da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) e professor da Academia da PCDF, da Academia Nacional de Polícia da Polícia Federal e do Centro de Formação de Praças da PMDF. Graduado em Geologia pela UNB, com especialização em Geologia Econômica. É também Presidente do Conselho de Administração do Fórum Brasileiro de Segurança Pública

No último dia 20 de abril, o técnico Cuca, cujo nome é Alexi Stival, foi anunciado pelo Corinthians como novo comandante da equipe. Com passagens em diversos clubes de ponta do futebol brasileiro, e também com importantes títulos conquistados, Cuca enfrenta desde 1987 acusações de envolvimento em um crime de estupro ocorrido na Suíça durante uma excursão do time do Grêmio, onde jogava à época. Desde que passou a comandar grandes equipes na função de treinador, o assunto sempre acompanhou Cuca, obrigando que tivesse de lidar com as repercussões que o fato acarretava. Com a crescente indignação que esse tipo de crime tem gerado, a sociedade organizada não apenas repudia o fato, mas emprega o envolvimento de pessoas públicas para gerar uma importante discussão que cumpre uma necessária finalidade: mudar essencialmente um comportamento.

Casos envolvendo jogadores de futebol, verdadeiras celebridades, fazem parte desse contexto: os casos de Robinho, ex-jogador do Santos e da seleção brasileira, e de Daniel Alves, ex-jogador do São Paulo e da seleção, são apenas alguns dos exemplos.

Desta vez a mídia não apenas recuperou os fatos ocorridos em 1987 com o então jogador Cuca, mas revelou novas e importantes provas que vão em desacordo com o que ele afirma em sua defesa ao falar sobre o caso.

Relembrando os fatos:

Cuca defendia o Grêmio como jogador à época. Em Berna, na Suíça, ele e outros três jogadores (Eduardo, Fernando e Henrique) foram detidos sob a alegação de terem feito sexo sem consentimento com uma menina de 13 anos. Os quatro foram liberados após quase um mês de detenção. Dois anos depois, Cuca, Eduardo e Henrique foram condenados a 15 meses de prisão. Fernando foi absolvido da acusação de atentado ao pudor e condenado por estar envolvido em ato de violência. Como o Brasil não possuía acordo de extradição, nenhum dos envolvidos cumpriu a pena.

Do ponto de vista pericial, o que se pode verificar é que o testemunho mais uma vez está em desacordo com o que mostram as provas técnicas. Nesse tipo de crime, quando não existem provas materiais para se embasar, a análise recai sobre a palavra das vítimas em oposição às palavras dos acusados. Já quando há evidências materiais, estas costumam pesar sobremaneira nas sentenças.

Durante a entrevista concedida em sua apresentação, o técnico Cuca afirmou:

Não vou ficar em casa me escondendo, sou inocente…É um tema delicado, pessoal meu, mas eu faço questão de falar sobre ele e tentar ser o mais aberto possível quanto a isso. Ocorreu há 37 anos, em 1987, eu era emprestado do Juventude, devia estar no Grêmio uns 15, 20 dias, fiquei 1 semana para tirar passaporte e tenho uma vaga lembrança de tudo que aconteceu, tinha 23 anos na época, nós iríamos jogar uma partida, subiu uma menina para o quarto que eu estava com mais 3 jogadores, essa foi minha participação nesse caso, sou totalmente inocente, não fiz nada“. “Essa é minha participação no caso, eu sou totalmente inocente, eu não fiz nada. As pessoas falam que houve um estupro. Houve um ato sexual com uma vulnerável. Essa foi a pena dada”. (Grifo nosso)                                                                                            

No caso de Cuca, a imprensa trouxe informações bastante relevantes em relação a provas produzidas à época. A mídia noticiou que em 1989, período em que se deu o julgamento, o tradicional jornal suíço Der Bund, fundado em 1850 em Berna, publicou que a investigação teria encontrado vestígios de esperma de Cuca e de outro jogador no corpo da menina. Trecho da matéria publicada em 16 de agosto de 1989 no Der Bund revela:

O relatório forense posteriormente mostrou vestígios de esperma dos dois jogadores Alexi e Eduardo no corpo da menina“. (Alexi é Cuca).

Baseando-se no fato de que Cuca foi condenado, parece lógico supor que mesmo a falta de reconhecimento por parte da vítima não foi considerada mais importante que a prova técnica do vestígio de DNA (no esperma) encontrado na menor de idade.

O caso que envolve o jogador já prescreveu, mas a memória que envolve o fato dá claras mostras de que não vai abandoná-lo jamais. O embate entre as modalidades de provas segue pautando o debate e servindo como moldura num contexto muito maior: a busca por tornar esse tipo de crime não apenas abominável, mas de contribuir para que ele não seja ignorado. “Respeita as Minas”!

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